5 de dezembro de 2009

Manifesto da Frente Nacional pelo Fim da Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto

Centenas de mulheres no Brasil estão sendo perseguidas, humilhadas e condenadas por recorrerem à prática do aborto. Isso ocorre porque nossa legislação do século passado (1940) criminaliza a mulher que praticou aborto e quem a ajudou. A criminalização do aborto condena as mulheres a um caminho de clandestinidade, ao qual se associam graves perigos para as suas vidas, saúde física e psíquica. Essa lei não contribui para reduzir este grave problema de saúde pública.


As mulheres pobres, negras e jovens, do campo e da periferia das cidades, são as que mais sofrem com a criminalização. São estas que recorrem a clínicas clandestinas e a outros meios precários e inseguros. Essas mulheres não podem pagar pelo serviço clandestino na rede privada. Também não podem viajar para países que o aborto é legalizado.


Grupos ultraconservadores e religiosos utilizam a estratégia de “estourar” clínicas clandestinas que fazem aborto. Esses setores conservadores querem punir as mulheres e levá-las à prisão. Em diferentes Estados, os Ministérios Públicos, ao invés de garantirem a proteção das cidadãs, têm investido esforços na perseguição e investigação de mulheres que recorreram à prática do aborto. Fichas e prontuários médicos de clínicas privadas

que fazem procedimento de aborto foram recolhidos, numa evidente disposição de aterrorizar e criminalizar as mulheres. No caso do Mato Grosso do Sul, foram quase 10 mil mulheres ameaçadas de indiciamento; algumas já foram processadas e punidas com a obrigação de fazer trabalhos em creches e cuidar de bebês. Este é um flagrante ato de violência psicológica contra estas mulheres.


Estas ações efetuadas pelo Judiciário somam-se aos maus tratos e humilhação que as mulheres sofrem em hospitais quando, em processo de abortamento, procuram atendimento. Neste mesmo contexto, o Congresso

Nacional aproveita para arrancar manchetes de jornais com projetos de lei que criminalizam cada vez mais as mulheres. Deputados elaboram Projetos de Lei como o “bolsa estupro”, que propõe uma bolsa mensal de um salário mínimo à mulher para manter a gestação decorrente de um estupro. A exemplo deste PL, existem muitos outros similares.


Em 8 de dezembro de 2008, foi instalada na Câmara dos Deputados a CPI do Aborto. O intuito dela é investigar o aborto clandestino no Brasil. No limite, essa CPI pode identificar as mulheres que fizeram o aborto e indiciá-las por infração do código penal e levá-las à prisão. A CPI não entrou em funcionamento por pressão dos movimentos sociais. É necessária a mobilização permanente contra a criminalização das mulheres.


Exigimos que essa CPI seja arquivada. Queremos o cumprimento dos acordos e tratados assumidos pelo governo brasileiro de respeitar, garantir e promover os direitos sexuais e reprodutivos. Temos que modificar a lei punitiva do aborto e promover sua legalização como forma de respeitar a autonomia das mulheres e reduzir as mortes evitáveis.


A criminalização das mulheres e de todas as lutas libertárias é mais uma expressão do

contexto reacionário, criado e sustentado pelo patriarcado capitalista globalizado em associação com setores religiosos fundamentalistas. Grupos conservadores querem retirar os direitos conquistados e manter o controle sobre as pessoas, especialmente sobre os corpos e a sexualidade das mulheres.


Ao contrário da prisão e condenação das mulheres, o que necessitamos e queremos é uma política integral de saúde sexual e reprodutiva que contemple todas as condições para uma prática sexual segura. A maternidade deve ser uma decisão livre e desejada e não uma obrigação das mulheres. Deve ser compreendida como função social e, portanto, o Estado deve prover todas as condições para que as mulheres decidam soberanamente se querem ou não ser mães, e quando querem. Para aquelas que desejam ser mães devem ser asseguradas condições econômicas e sociais, através de políticas públicas universais que garantam assistência a gestação, parto e puerpério, assim como os cuidados necessários ao desenvolvimento pleno de uma criança: creche, escola, lazer, saúde.


As mulheres que desejam evitar gravidez devem ter garantido o planejamento reprodutivo e as que necessitam interromper uma gravidez indesejada deve ser assegurado o atendimento ao aborto legal e seguro no sistema público de saúde.


Neste contexto, não podemos nos calar!


Nós, sujeitos políticos, movimentos sociais, organizações políticas, lutadores e lutadoras sociais e pelos diretos humanos, reafirmamos nosso compromisso com a construção de um mundo justo, fraterno e solidário, nos rebelamos contra a criminalização das mulheres que fazem aborto, nos reunimos nesta Frente para lutar pela dignidade e cidadania de todas as mulheres.


Nenhuma mulher deve ser impedida de ser mãe. E nenhuma mulher pode ser obrigada a ser mãe. Por uma política que reconheça a autonomia das mulheres e suas decisões sobre seu corpo e sexualidade.


Pela defesa da democracia e do principio constitucional do Estado laico, que deve atender a todas e todos, sem se pautar por influências religiosas e com base nos critérios da universalidade do atendimento da saúde!


Por uma política que favoreça a mulheres e homens um comportamento preventivo, que promova de forma universal o acesso a todos os meios de proteção à saúde, de concepção e anticoncepção, sem coerção e com respeito.


Nenhuma mulher deve ser presa, maltratada ou humilhada por ter feito aborto!

Dignidade, autonomia, cidadania para as mulheres!

Pela não criminalização das mulheres e pela legalização do aborto!

Assinam o Manifesto

Redes Latino-Americanas

AFM – Articulação Feminista Marcosur

CLADEM – Comitê Latino-Americano e do Caribe para a

Defesa dos Direitos da Mulher

FDIM – Federação Democrática Internacional das Mulheres

Fórum de Mulheres do Mercosul - Capítulo Brasil

ILGA –LAC – International Lesbian and Gay Association

Secretaria da Mulher da Fecosul

Ponto Focal – Brasil – Campanha 28 de Setembro pela

Descriminalização do Aborto

Red Latinoamericana de Católicas por el Derecho a Decidir

Rede de Saúde das Mulheres Latino Americanas e do Caribe

Rede Mulher e Habitat

REMTE – Rede Mulheres Transformando a Economia

Redes e Movimentos Nacionais

ABEN – Associação Brasileira de Enfermagem

ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS

ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais,

Travestis e Transexuais

ABL – Articulação Brasileiras de Lésbicas

ABORDA – Associação Brasileira de Redutores de Danos

ABRAPSO – Associação Brasileira de Psicologia Social

ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não-

Governamentais

AMATERNA – Associação Nacional de Familiares e Amigos de

Vítimas de Morte Materna

AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras

Associação Humanista do Brasil

ANPG - Associação Nacional de Pós-Graduandos

CDD - Católicas pelo direito de Decidir

CEBRAPAZ – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e

Luta pela Paz

CMB – Confederação de Mulheres Brasileiras

CMS – Coordenação de Movimentos Sociais

CONAM – Confederação Nacional de Associação de

Moradores

CNMTR – Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras

Rurais /CONTAG

CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores na

Educação

Consulta Popular

CTB – Central de Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil

CUT – Central Única dos Trabalhadores

Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos

Fórum Nacional de Mulheres Negras

Intersindical

Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social

Jornadas pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro

LBL – Liga Brasileira de Lésbicas

MAB – Movimento de Adolescentes do Brasil

MMM – Marcha Mundial das Mulheres

Movimento de Mulheres Camponesas

RFS – Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e

Direitos Reprodutivos

RHEG – Rede Brasileira de Homens pela Eqüidade de Gênero

SNMT/CUT – Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora

UBM – União Brasileira de Mulheres

UJC – União da Juventude Comunista

UJS – União da Juventude Socialista

UNE – União Nacional dos Estudantes

Secretaria Nacional de Mulheres dos Partidos:

PCB, PCdoB, PSOL, PT

Organizações

AGENDE – Ações de Gênero Cidadania e Desenvolvimento

ALÉM – Associação Lésbica de Minas

AMEPE – Associação de Mulheres Entendidas de Pernanbuco

AMZOL – Associação de Mulheres da Zona Leste/SP

APADEP – Associação Paulista de Defensores Públicos

APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do

Estado de São Paulo

Assembléia Popular do RJ

Associação 8 de Março de Pirituba

Associação Cultura e Beneficente Ilê Mulher

Associação Cultural de Educadores e Pesquisadores da USP

Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo

Associação de Moradores do Conjunto Habitacional Jardim

São Francisco-V

Associação de Mulheres do Graal

Associação de Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra do

Jardim Paquetá – Pirituba

Associação Lésbica Feminista de Brasília

Associação Pathfinder do Brasil

Aton Fon - Advogados Associados

APROPUC - Associação dos Professores da PUC

Atuadoras

Casa da Mulher 8 de Março de Tocantins

Casa da Mulher Catarina

CCR – Comissão de Cidadania e Reprodução

CEDEMPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará

CEDOICOM – Centro de Documentação e Informação Coisa

de Mulher

CEFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria

Centro Acadêmico de Enfermagem da UNICAMP

Centro Acadêmico de Letras, Linguística e Estudos Literários

da UNICAMP

Centro Acadêmico Florestan Fernandes da Escola de

Sociologia e Política

Centro de Cultura Luiz Freire

Centro de Defesa da Mulher

CEPIA – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação

Centro Acadêmico Benevides Paixão de Comunicação da

PUC/SP

contato: frentelegalizacaoaborto@gmail.com

Campo Barricadas Abrem Caminhos

Conectas Direitos Humanos

Centro Nordestino de Medicina Popular

CIM – Centro de Informação da Mulher

Círculo Palmarino

CMP – Central de Movimentos Populares

Coletivo Alumiá: Gênero e Cidadania

Coletivo de Jovens Feministas do Ceará

Coletivo de Mulheres Ana Montenegro

Coletivo de Mulheres da Baixada Santista

Coletivo de Mulheres de São Mateus

Coletivo de Mulheres do Campo Limpo

Coletivo Feminino Plural

Coletivo Feminista Dandara - USP

Coletivo Feminista da UNICAMP

Coletivo Lesbianas Feministas Josefa Camejo

Coletivo Wendo - SP

Comitê Mineiro pelo Aborto Legal

COMULHER – Comunicação Mulher

Companhia de Teatro Mal Amadas

Coletivo Terceira Margem do Rio

Coturno de Vênus

Conselho Municipal dos Direitos da Mulher POA/RS

CRESS – Conselho Regional de Serviço Social -SP

Cunhã Coletivo Feminista

DCE-UNICAMP – Diretório Central dos Estudantes da

UNICAMP

Enecos - Executiva Nacional dos Estudantes de

Comunicação Social

Espaço Mulher

Entre Nós – Assessoria, Educação e Pesquisa em Gênero

e Raça

Expressão Feminista

FACESP – Federação das Associações Comunitárias

do Estado de São Paulo

Fala Preta! – Organização de Mulheres Negras

FAOR – Fórum da Amazônia Oriental – GT MUlheres

Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense

Fórum de Unidade dos Comunistas

Frente Regional de Combate à Violência – SP

Fuzarca Feminista

Fórum de Meio de Ambiente do Trabalhador

Gato Negro – Núcleo de Libertação Animal

Geledés

GEMA/UFPE – Grupo de pesquisa sobre gênero e

masculinidades

Grupo Curumim

Grupo de Teatro Loucas de Pedra Lilás

GT Gênero e Saúde – ABRASCO

GT Mulheres do Fórum da Amazônia Oriental – FAOR

Grupo Humanus

Grupo LUAS – Liberdade União Afetivo Sexual das Mulheres

Lésbicas e Bissexuais

Grupo Transas do Corpo

IMAIS – Instituto Mulheres pela Atenção Integral à Saúde e

aos Direitos Sexuais e Reprodutivos

Instituto Antígona

Instituto de Mulheres Negras do Amapá

Instituto EQUIT – Gênero, Economia e Cidadania Global

Instituto Papai

Instituto Patrícia Galvão

Instituto Pro Bono

Instituto Zequinha Barreto

IPAS Brasil

Jornal FazendoMedia.com

Justiça Global

Kiu! Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual UFBA/

UCSAL/UNEB

Kiwi

MAMA – Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia

Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras de Porto

Alegre

MDM – Movimento pelo Direito a Moradia

MIM – Movimento Ibiapabano de Mulheres

Movimento de Mulheres de Cabo Frio

Movimento D’ELLAS

Movimento de Mulheres do Guamá

MTD – Movimento de Trabalhadores Desempregados

de São Paulo

Mulheres em União – Centro de Apoio e Defesa dos Direitos

da Mulher

NUDU – Núcleo de Diversidade da UNICAMP

NEIM/UFBA – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a

Mulher

NEM – RN – Núcleo de Estudos sobre a Mulher Simone de

Beauvoir

NEPO – UNICAMP – Núcleo de Estudos de População

Núcleo de Mulheres de Roraima

Observatório da Mulher

ONG Gesto e Ação

ONG Rubens Carlos Costa – Vila Zatti – Pirituba

Oriashé – Sociedade Brasileira de Cultura e Arte Negra

Promotoras Legais Populares de Porto Alegre

Promotoras Legais Populares de São Paulo

Promotoras Legais Populares de Mauá

Rede de Mulheres Negras do Paraná

Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano -RJ

REF- Rede Economia e Feminismo

Refundação Comunista

SEMT – Secretaria Estadual da Mulher Trabalhadora - CUTSP

Serviço à Mulher Marginalizada

Sindicato dos Radialistas no Estado de São Paulo

SINTRATEL – Sindicato dos Trabalhadores do Telemarketing

SOF – Sempreviva Organização Feminista

SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia

Teatro Maria Mulher

Themis – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero

UEE-SP – União Estadual de Estudantes de São Paulo

UMM – União dos Movimentos de Moradia

UNEAFRO – União de Núcleos de Educação Popular para

Negro

UNEGRO - União de Negros pela Igualdade


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