Centenas de mulheres no Brasil estão sendo perseguidas, humilhadas e condenadas por recorrerem à prática do aborto. Isso ocorre porque nossa legislação do século passado (1940) criminaliza a mulher que praticou aborto e quem a ajudou. A criminalização do aborto condena as mulheres a um caminho de clandestinidade, ao qual se associam graves perigos para as suas vidas, saúde física e psíquica. Essa lei não contribui para reduzir este grave problema de saúde pública.
As mulheres pobres, negras e jovens, do campo e da periferia das cidades, são as que mais sofrem com a criminalização. São estas que recorrem a clínicas clandestinas e a outros meios precários e inseguros. Essas mulheres não podem pagar pelo serviço clandestino na rede privada. Também não podem viajar para países que o aborto é legalizado.
Grupos ultraconservadores e religiosos utilizam a estratégia de “estourar” clínicas clandestinas que fazem aborto. Esses setores conservadores querem punir as mulheres e levá-las à prisão. Em diferentes Estados, os Ministérios Públicos, ao invés de garantirem a proteção das cidadãs, têm investido esforços na perseguição e investigação de mulheres que recorreram à prática do aborto. Fichas e prontuários médicos de clínicas privadas
que fazem procedimento de aborto foram recolhidos, numa evidente disposição de aterrorizar e criminalizar as mulheres. No caso do Mato Grosso do Sul, foram quase 10 mil mulheres ameaçadas de indiciamento; algumas já foram processadas e punidas com a obrigação de fazer trabalhos em creches e cuidar de bebês. Este é um flagrante ato de violência psicológica contra estas mulheres.
Estas ações efetuadas pelo Judiciário somam-se aos maus tratos e humilhação que as mulheres sofrem em hospitais quando, em processo de abortamento, procuram atendimento. Neste mesmo contexto, o Congresso
Nacional aproveita para arrancar manchetes de jornais com projetos de lei que criminalizam cada vez mais as mulheres. Deputados elaboram Projetos de Lei como o “bolsa estupro”, que propõe uma bolsa mensal de um salário mínimo à mulher para manter a gestação decorrente de um estupro. A exemplo deste PL, existem muitos outros similares.
Em 8 de dezembro de 2008, foi instalada na Câmara dos Deputados a CPI do Aborto. O intuito dela é investigar o aborto clandestino no Brasil. No limite, essa CPI pode identificar as mulheres que fizeram o aborto e indiciá-las por infração do código penal e levá-las à prisão. A CPI não entrou em funcionamento por pressão dos movimentos sociais. É necessária a mobilização permanente contra a criminalização das mulheres.
Exigimos que essa CPI seja arquivada. Queremos o cumprimento dos acordos e tratados assumidos pelo governo brasileiro de respeitar, garantir e promover os direitos sexuais e reprodutivos. Temos que modificar a lei punitiva do aborto e promover sua legalização como forma de respeitar a autonomia das mulheres e reduzir as mortes evitáveis.
A criminalização das mulheres e de todas as lutas libertárias é mais uma expressão do
contexto reacionário, criado e sustentado pelo patriarcado capitalista globalizado em associação com setores religiosos fundamentalistas. Grupos conservadores querem retirar os direitos conquistados e manter o controle sobre as pessoas, especialmente sobre os corpos e a sexualidade das mulheres.
Ao contrário da prisão e condenação das mulheres, o que necessitamos e queremos é uma política integral de saúde sexual e reprodutiva que contemple todas as condições para uma prática sexual segura. A maternidade deve ser uma decisão livre e desejada e não uma obrigação das mulheres. Deve ser compreendida como função social e, portanto, o Estado deve prover todas as condições para que as mulheres decidam soberanamente se querem ou não ser mães, e quando querem. Para aquelas que desejam ser mães devem ser asseguradas condições econômicas e sociais, através de políticas públicas universais que garantam assistência a gestação, parto e puerpério, assim como os cuidados necessários ao desenvolvimento pleno de uma criança: creche, escola, lazer, saúde.
As mulheres que desejam evitar gravidez devem ter garantido o planejamento reprodutivo e as que necessitam interromper uma gravidez indesejada deve ser assegurado o atendimento ao aborto legal e seguro no sistema público de saúde.
Neste contexto, não podemos nos calar!
Nós, sujeitos políticos, movimentos sociais, organizações políticas, lutadores e lutadoras sociais e pelos diretos humanos, reafirmamos nosso compromisso com a construção de um mundo justo, fraterno e solidário, nos rebelamos contra a criminalização das mulheres que fazem aborto, nos reunimos nesta Frente para lutar pela dignidade e cidadania de todas as mulheres.
Nenhuma mulher deve ser impedida de ser mãe. E nenhuma mulher pode ser obrigada a ser mãe. Por uma política que reconheça a autonomia das mulheres e suas decisões sobre seu corpo e sexualidade.
Pela defesa da democracia e do principio constitucional do Estado laico, que deve atender a todas e todos, sem se pautar por influências religiosas e com base nos critérios da universalidade do atendimento da saúde!
Por uma política que favoreça a mulheres e homens um comportamento preventivo, que promova de forma universal o acesso a todos os meios de proteção à saúde, de concepção e anticoncepção, sem coerção e com respeito.
Nenhuma mulher deve ser presa, maltratada ou humilhada por ter feito aborto!
Dignidade, autonomia, cidadania para as mulheres!
Pela não criminalização das mulheres e pela legalização do aborto!
Assinam o Manifesto
Redes Latino-Americanas
AFM – Articulação Feminista Marcosur
CLADEM – Comitê Latino-Americano e do Caribe para a
Defesa dos Direitos da Mulher
FDIM – Federação Democrática Internacional das Mulheres
Fórum de Mulheres do Mercosul - Capítulo Brasil
ILGA –LAC – International Lesbian and Gay Association
Secretaria da Mulher da Fecosul
Ponto Focal – Brasil – Campanha 28 de Setembro pela
Descriminalização do Aborto
Red Latinoamericana de Católicas por el Derecho a Decidir
Rede de Saúde das Mulheres Latino Americanas e do Caribe
Rede Mulher e Habitat
REMTE – Rede Mulheres Transformando a Economia
Redes e Movimentos Nacionais
ABEN – Associação Brasileira de Enfermagem
ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS
ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais,
Travestis e Transexuais
ABL – Articulação Brasileiras de Lésbicas
ABORDA – Associação Brasileira de Redutores de Danos
ABRAPSO – Associação Brasileira de Psicologia Social
ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não-
Governamentais
AMATERNA – Associação Nacional de Familiares e Amigos de
Vítimas de Morte Materna
AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras
Associação Humanista do Brasil
ANPG - Associação Nacional de Pós-Graduandos
CDD - Católicas pelo direito de Decidir
CEBRAPAZ – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e
Luta pela Paz
CMB – Confederação de Mulheres Brasileiras
CMS – Coordenação de Movimentos Sociais
CONAM – Confederação Nacional de Associação de
Moradores
CNMTR – Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras
Rurais /CONTAG
CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Educação
Consulta Popular
CTB – Central de Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil
CUT – Central Única dos Trabalhadores
Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos
Fórum Nacional de Mulheres Negras
Intersindical
Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social
Jornadas pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro
LBL – Liga Brasileira de Lésbicas
MAB – Movimento de Adolescentes do Brasil
MMM – Marcha Mundial das Mulheres
Movimento de Mulheres Camponesas
RFS – Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e
Direitos Reprodutivos
RHEG – Rede Brasileira de Homens pela Eqüidade de Gênero
SNMT/CUT – Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora
UBM – União Brasileira de Mulheres
UJC – União da Juventude Comunista
UJS – União da Juventude Socialista
UNE – União Nacional dos Estudantes
Secretaria Nacional de Mulheres dos Partidos:
PCB, PCdoB, PSOL, PT
Organizações
AGENDE – Ações de Gênero Cidadania e Desenvolvimento
ALÉM – Associação Lésbica de Minas
AMEPE – Associação de Mulheres Entendidas de Pernanbuco
AMZOL – Associação de Mulheres da Zona Leste/SP
APADEP – Associação Paulista de Defensores Públicos
APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do
Estado de São Paulo
Assembléia Popular do RJ
Associação 8 de Março de Pirituba
Associação Cultura e Beneficente Ilê Mulher
Associação Cultural de Educadores e Pesquisadores da USP
Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo
Associação de Moradores do Conjunto Habitacional Jardim
São Francisco-V
Associação de Mulheres do Graal
Associação de Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra do
Jardim Paquetá – Pirituba
Associação Lésbica Feminista de Brasília
Associação Pathfinder do Brasil
Aton Fon - Advogados Associados
APROPUC - Associação dos Professores da PUC
Atuadoras
Casa da Mulher 8 de Março de Tocantins
Casa da Mulher Catarina
CCR – Comissão de Cidadania e Reprodução
CEDEMPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
CEDOICOM – Centro de Documentação e Informação Coisa
de Mulher
CEFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria
Centro Acadêmico de Enfermagem da UNICAMP
Centro Acadêmico de Letras, Linguística e Estudos Literários
da UNICAMP
Centro Acadêmico Florestan Fernandes da Escola de
Sociologia e Política
Centro de Cultura Luiz Freire
Centro de Defesa da Mulher
CEPIA – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação
Centro Acadêmico Benevides Paixão de Comunicação da
PUC/SP
contato: frentelegalizacaoaborto@gmail.com
Campo Barricadas Abrem Caminhos
Conectas Direitos Humanos
Centro Nordestino de Medicina Popular
CIM – Centro de Informação da Mulher
Círculo Palmarino
CMP – Central de Movimentos Populares
Coletivo Alumiá: Gênero e Cidadania
Coletivo de Jovens Feministas do Ceará
Coletivo de Mulheres Ana Montenegro
Coletivo de Mulheres da Baixada Santista
Coletivo de Mulheres de São Mateus
Coletivo de Mulheres do Campo Limpo
Coletivo Feminino Plural
Coletivo Feminista Dandara - USP
Coletivo Feminista da UNICAMP
Coletivo Lesbianas Feministas Josefa Camejo
Coletivo Wendo - SP
Comitê Mineiro pelo Aborto Legal
COMULHER – Comunicação Mulher
Companhia de Teatro Mal Amadas
Coletivo Terceira Margem do Rio
Coturno de Vênus
Conselho Municipal dos Direitos da Mulher POA/RS
CRESS – Conselho Regional de Serviço Social -SP
Cunhã Coletivo Feminista
DCE-UNICAMP – Diretório Central dos Estudantes da
UNICAMP
Enecos - Executiva Nacional dos Estudantes de
Comunicação Social
Espaço Mulher
Entre Nós – Assessoria, Educação e Pesquisa em Gênero
e Raça
Expressão Feminista
FACESP – Federação das Associações Comunitárias
do Estado de São Paulo
Fala Preta! – Organização de Mulheres Negras
FAOR – Fórum da Amazônia Oriental – GT MUlheres
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense
Fórum de Unidade dos Comunistas
Frente Regional de Combate à Violência – SP
Fuzarca Feminista
Fórum de Meio de Ambiente do Trabalhador
Gato Negro – Núcleo de Libertação Animal
Geledés
GEMA/UFPE – Grupo de pesquisa sobre gênero e
masculinidades
Grupo Curumim
Grupo de Teatro Loucas de Pedra Lilás
GT Gênero e Saúde – ABRASCO
GT Mulheres do Fórum da Amazônia Oriental – FAOR
Grupo Humanus
Grupo LUAS – Liberdade União Afetivo Sexual das Mulheres
Lésbicas e Bissexuais
Grupo Transas do Corpo
IMAIS – Instituto Mulheres pela Atenção Integral à Saúde e
aos Direitos Sexuais e Reprodutivos
Instituto Antígona
Instituto de Mulheres Negras do Amapá
Instituto EQUIT – Gênero, Economia e Cidadania Global
Instituto Papai
Instituto Patrícia Galvão
Instituto Pro Bono
Instituto Zequinha Barreto
IPAS Brasil
Jornal FazendoMedia.com
Justiça Global
Kiu! Coletivo Universitário pela Diversidade Sexual UFBA/
UCSAL/UNEB
Kiwi
MAMA – Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia
Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras de Porto
Alegre
MDM – Movimento pelo Direito a Moradia
MIM – Movimento Ibiapabano de Mulheres
Movimento de Mulheres de Cabo Frio
Movimento D’ELLAS
Movimento de Mulheres do Guamá
MTD – Movimento de Trabalhadores Desempregados
de São Paulo
Mulheres em União – Centro de Apoio e Defesa dos Direitos
da Mulher
NUDU – Núcleo de Diversidade da UNICAMP
NEIM/UFBA – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a
Mulher
NEM – RN – Núcleo de Estudos sobre a Mulher Simone de
Beauvoir
NEPO – UNICAMP – Núcleo de Estudos de População
Núcleo de Mulheres de Roraima
Observatório da Mulher
ONG Gesto e Ação
ONG Rubens Carlos Costa – Vila Zatti – Pirituba
Oriashé – Sociedade Brasileira de Cultura e Arte Negra
Promotoras Legais Populares de Porto Alegre
Promotoras Legais Populares de São Paulo
Promotoras Legais Populares de Mauá
Rede de Mulheres Negras do Paraná
Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano -RJ
REF- Rede Economia e Feminismo
Refundação Comunista
SEMT – Secretaria Estadual da Mulher Trabalhadora - CUTSP
Serviço à Mulher Marginalizada
Sindicato dos Radialistas no Estado de São Paulo
SINTRATEL – Sindicato dos Trabalhadores do Telemarketing
SOF – Sempreviva Organização Feminista
SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia
Teatro Maria Mulher
Themis – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero
UEE-SP – União Estadual de Estudantes de São Paulo
UMM – União dos Movimentos de Moradia
UNEAFRO – União de Núcleos de Educação Popular para
Negro
UNEGRO - União de Negros pela Igualdade
Nenhum comentário:
Postar um comentário